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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Alice ou a última fuga


Alice ou a última fuga (Alice ou la dernière fugue, 1977), filme dedicado à memória de Fritz Lang, é também uma sensual homenagem de Cluade Chabrol à Alice no País das Maravilhas, obra de Lewis Carroll. O nome da protagonista, Alice Carol, não esconde a referência. Alice ou a última fuga é um corte abrupto dentro de uma vida e um projeto singular de amadurecimento espiritual. Alice, depois de abandonar o marido, dirige seu carro até que, em decorrência da forte chuva, o vidro dianteiro se estilhaça, e ela se vê na obrigação de parar e abrigar-se em uma misteriosa residência. Ao tentar deixar o lugar no dia seguinte, a bela descobre que está aprisionada em um lugar misterioso habitado por homens estranhos que não podem dizer tudo que ela deseja saber a respeito de tão inconcebível situação. O silencio intercalado por imagens estranhas transforma a protagonista em uma desbravadora do maravilhoso, da mente e da própria morte.

Parece que Chabrol assombra a premissa de Carroll para poder chegar a uma ode ao fugidio e à reflexão acerca das mudanças da vida e de sua tênue fronteira com a morte. Há um enigma mais que delicioso nesse quadro suprareal pintado com o auxílio da icônica atuação de Sylvia Kristel. Ao final de tudo, há o despertar do sonho e a incômoda realidade da "vida", o outro lado do muro para onde Alice não saltou ao escolher livrar-se de todos os grilhões que a prendiam, ao contrário dos tolos pássaros, que não entendem que a porta da gaiola está aberta e que assim podem fugir.

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